Fundamentação
teológica para a Pastoral da Sobriedade.
1. O amor gratuito do Pai desperta em nós a solidariedade com o mundo e com
a humanidade fazendo dos excluídos os nossos preferidos.
2. O testemunho de Jesus, que veio para salvar quem está perdido, nos impulsiona
na direção daqueles que se encontram em situação periclitante.
3. A efusão do Divino Espírito Santo, que faz brotar em nós rios de água
viva (Jo 7, 38), nos dá força e graça para transformar ossos ressequidos em um exército em ordem de batalha (Ez 37, 4-10)
e nos concede, a cada momento, o que mais nos convém.
4. Como membros da Igreja, serva da humanidade, sentimo-nos em comunhão com
os mais necessitados de sua ajuda.
5. Motivados pela práxis de Jesus, que se fez Bom Pastor (Jo 10, 11-15) e
Bom Samaritano (Lc 10, 30-37), cremos firmemente que, no Reino de Deus, o maior é o que serve os demais e lava os seus pés
(Jo 13, 4-17).
6. Enviados por Deus, que é “todo caridade”, os agentes da pastoral
de prevenção e recuperação em dependência química são abertos e cordiais, prontos a dar o primeiro passo e a acolher sempre
com bondade, respeito e paciência. Com o afeto de um pai, mãe, irmão(ã) e amigo(a) procuramos devolver a consciência da dignidade
e co-responsabilidade entre os dependentes.
7. Tendo presente o mistério da encarnação, em nosso trabalho preventivo
ou de recuperação, visamos sempre a integração fé - vida, levando em conta as complexas variantes do campo vital, ou seja,
o mundo em que vivemos concretamente.
8. O primeiro e mais importante sinal de amor que nos acompanha em todo o
processo de nossa pastoral seria a acolhida incondicional, como primeiro passo para que os dependentes, tantas vezes rejeitados,
possam redescobrir a sua fundamental dignidade, o seu valor, como pessoa e como filho de Deus.
9. O mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo, nos faz portadores
das exigências do amor, que nos leva a dar a vida pelos irmãos e, com isso, nos torna agradáveis a Deus, vivenciando a eucaristia,
sacrifício da nova e eterna aliança.
10. Baseados nas atitudes de Jesus, procuramos valorizar aquilo de que os
dependentes são mais capazes do que nós: a experiência da própria vida. Procuramos dar a voz e a vez para que se expressem.
Temos presente que todas as experiências humanas estão carregadas de dignidade, porque Deus trabalha em todas, ou para autenticar,
ou para consolidar, ou para converter: em síntese para salvar. O que mais dá glória a Deus é a via do ser vivente.
11. Tendo presente que Jesus é o caminho (Jo 14, 6), procuramos proporcionar
aos dependentes a descoberta do sentido da vida e a unificação das suas múltiplas experiências em torno de um novo projeto
de vida alicerçado em valores.
12. Procuramos não dramatizar os fatos, tendo presente que Jesus veio para
salvar os que estão perdidos, consequentemente acolhemos a vido como um dom, mas também como um problema e a realidade não
é só bonita, mas também um desafio. Na medida que os dependentes se abrem à comunhão com os outros, com a história, com a
natureza, com Deus, vão experimentando a força da comunhão que salva.
13. A ressurreição de Jesus nos leva a propor aos dependentes novas formas
de vida, testemunhadas pela comunidade terapêutica, solicitando sempre novas interrogações.
14. Considerando o mistério de Deus, propomos experiências religiosas, através
de perguntas que tentam uma “salvação do absurdo da vida”. Para tanto, cremos serem muito oportunas as experiências
carregadas de positivo, de alegria pela vida, de autenticidade, transparência, paz interior, harmonia no relacionamento, esperança,
festa, música, ecologia, vida nova.
15. Da experiência religiosa, passamos para o anúncio de Cristo, através de
um encontro pessoal com o Cristo Vivo. Jesus Cristo não é apenas o mais profundo de nossa reflexão, ou experiência de vida,
mas uma revelação. Será sempre necessário um anúncio explícito, entendido mais facilmente pelos simples e puros de coração.
16. Da práxis pedagógica da Igreja, embasada em valores teologais, destacamos
algumas:
· A capacidade de passar dos sinais vistos
para a realidade significada, cultivando o aspecto sacramental das coisas e pessoas, principalmente de Jesus Cristo que se
tornou sinal e portador do amor do Pai. “Quem me vê, vê também o Pai” (Jo 14, 9);
· Despertar o hábito de criar uma espécie de
conflito interior entre o imediato da experiência e o seu sentido mais profundo: O que Deus quis me falar através dos acontecimentos
de hoje?
· A necessidade de caminhas para as causas
últimas, visão de conjunto, sem se fixar como se fossem definitivas as respostas encontradas: Quando sabemos de cor as respostas,
a vida troca as perguntas;
· Cultivar a disponibilidade para a calma,
o silêncio, a escuta e poder acolher, no rumor das emoções, os valores escondidos;
· A capacidade de lutar com um coração reconciliador;
· A recusa de unir a realização pessoal às
coisas que possuímos, ou a uma salvação egoísta;
· Vencer o mal com o bem, sem revanches, violências,
ressentimentos;
· Ter presente que, por melhor que seja alguém,
jamais conseguirá ser tão bom e eficiente como todos nós unidos;
· A vida deve ser partilhada no seu todo, e
não apenas nas sobras;
· É melhor prevenir do que remediar. O verdadeiro
amigo chega antes, ama por primeiro;
· Nosso trabalho está direcionado à dignidade
das pessoas, e não apenas à suas necessidades imediatas. Consequentemente não podemos apenas recuperar o dependente do álcool,
ou das drogas, mas propor-lhe o caminho da perfeição e da felicidade
17. Tendo presente que Jesus veio para que todos tenham vida e vida em abundância
(Jo 10, 10), cultivamos uma verdadeira paixão pela vida e fazemos nossa proposta de Teresa de Calcutá:
· A vida é uma oportunidade, agarre-a.
· A vida é uma beleza, admire-a.
· A vida é uma ventura, saboreie-a.
· A vida é um sonho, faça dele realidade.
· A vida é um desafio, enfrente-o.
· A vida é um dever, cumpra-o.
· A vida é um jogo, jogue-o.
· A vida é preciosa, cuide bem dela.
· A vida é uma riqueza, conserve-a.
· A vida é amor, desfrute-o.
· A vida é um mistério, penetre-o.
· A vida é promessa, cumpra-a.
· A vida é tristeza, supere-a.
· A vida é um hino, cante-o.
· A vida é um combate, aceite-o.
· A vida é uma tragédia, enfrente-a.
· A vida é uma ventura, ouse-a.
· A vida é felicidade, mereça-a.
· A vida é o maior dom, defenda-o.
18. Assimilando o testemunho do Bom Pastor, que não foge quando o lobo se
aproxima, cultivamos a atitude de coragem e audácia, articulando todas as forças vivas no combate contra a humanidade neste
final de século e início de novo milênio. Quem tem medo de morrer, morre de medo. Queremos dar a vida, e não apenas morrer.
Unidos à utopia da pastoral da juventude, nos esforçamos para implantar a “civilização do amor”, para que venha
a nós o Reino de Deus.
19. Em tudo e sempre “esperamos contra toda esperança” (Rm 4,
18), porque o Deus da vida está conosco. Suas promessas não passam.
20. Unidos àquela pela qual veio ao mundo a vida nova, procuraremos em tudo
cultivar suas virtudes e nos servir de sua intercessão. Amém.
Dom Irineu Danelon