Intervenção de ajuda em dependência química
A Pastoral pode
atuar nas Paróquias e Dioceses em cinco frentes de trabalho, segundo as possibilidade de cada lugar:
a) ...
b) no Campo da Intervenção, para o público que já se iniciou no uso de
drogas mais ainda não se tornou dependente com necessidade de internação, incentivando a abertura de novos grupos de auto-ajuda
nas comunidades, paróquias e escolas como o AA, NA, NATA, NAFTA, AMOR EXIGENTE, Grupos da Pastoral da Sobriedade;
Grupo
de auto-ajuda
São grupos formados por homens e mulheres que seguem tradições e passos, com o objetivo
de recuperação. Solidários sim, solitários nunca. Anônimos por escolha, desprendidos por obrigação, eles formam uma cruzada
silenciosa de apoio a todas as pessoas que padecem de comportamentos compulsivos.
Os grupos de auto ajuda são pequenos
núcleos formados por pessoas que se recuperam de estilos de vida destrutivos e hoje retribuem a retomada da felicidade comum
à pregação pela busca do equilíbrio. Na troca de experiências, o indivíduo se enxerga no grupo e, ao fazê-lo, toma consciência
de que o seu problema não é único, encontrando força extra para a própria recuperação.
Em grupo, trata-se de olhar dentro
de si mesmo com sinceridade para descobrir o egoísmo, os medos; os mecanismos de delegação e de posse que afetam negativamente
a autonomia do filho; a ignorância, a preguiça, a indiferença que deixam-no crescer na solidão, porque o pai e a mãe não sabem
dar-lhe proteção e participação responsável. Os grupos confortam os pais para que superem os sentimentos de culpa.
“Um
fio triplo não se rompe facilmente”. Ecl 4, 12
Existem diversos grupos, dentre os quais destacam-se:
1. Grupos de apoio à recuperação do dependente químico:
AA – Alcoólicos Anônimos, NA – Narcóticos Anônimos, NATA – Núcleo de
Apoio ao Toxicômano e ao Alcoólatra, Grupos da Pastoral da Sobriedade.
Os membros são dependentes que estão num processo de recuperação através da abstinência
de drogas. Todos os membros são considerados iguais. A recuperação se faz com maior facilidade devido à empatia e ao clima
agradável das reuniões. O processo inicia-se com a abstinência. Sem abstinência não há recuperação. Aos poucos ocorre uma
mudança total de vida. Sem mudança não há recuperação.
2. Grupos de apoio a familiares e amigos dos dependentes químicos:
AL-ANON – para familiares, AL-ATEEN – para filhos, NARANON – para familiares,
NAFTA – para familiares, NAFTINHA – para crianças.
É fundamental que a família também entre num processo de recuperação. As relações com
a família são uma das grandes dificuldades para o dependente e para a própria família. Nos grupos os familiares aprendem a
ter novas atitudes em ralação à própria vida.
3. AMOR-EXIGENTE – para familiares e dependentes.
“Todo ser vivo ama seu
semelhante”. Sr 13, 15
Amor-Exigente é uma proposta de educação destinada a
pais e orientadores, como forma de prevenir e solucionar problemas com nossos jovens, tais como: desrespeito, violência,
falta de motivação, uso de álcool ou drogas, abuso verbal, repetência escolar, enfim, qualquer comportamento inadequado. É
uma nova abordagem que enfatiza a mudança de comportamento de pais, professores, pedagogos, terapeutas, orientadores e voluntários
em relação a jovens com problemas.
Crie
um grupo de apoio
Se seu filho ou filha está envolvido com drogas ou outro problema sério, verifique com
quem ele se relaciona, que tipo de companhia mantém. Consiga os nomes e telefones de todos os seus amigos: os amigos de festas,
de jogos, os que vêm visitá-lo. Telefone a todos os pais desses amigos e marque uma reunião para todo o grupo. Na reunião,
com toda a franqueza, informe que está tendo problemas com seu filho e que pensa que talvez eles também estejam tendo. Convide-os
a fazer algo a respeito. Depois de se conhecerem rapidamente, analisem o problema e comecem a fazer as leis para os seus filhos.
Combine para que esta reunião aconteça novamente cada semana.
A escolha é nossa: ou continuamos a acusar os pais, as escolas, o governo, os aliciadores,
os traficantes, a polícia, além de outros alvos preferidos, ou passamos a reagir, adotando soluções novas para os problemas
que se fazem velhos. Podemos e devemos fazer já essa escolha.
“Um fio triplo não se rompe facilmente”.
Ecl 4, 12. “Eis a hora de sairdes do vosso sono”. Rm 13, 11
Outra maneira de formar um grupo de auto-ajuda é convidar os dependentes que procuram
ajuda ou que são conhecidos para uma primeira reunião e incentivá-los a continuar participando. Para isso todas as forças
vivas da comunidade devem ser chamadas a colaborar.
Acolhida
‘Acolhida significa perguntar a quem bate à porta, para onde quer ir, e não de
onde vem. Perguntar sobre as intenções para o amanhã, e não sobre o passado’. (Pe. Mario Picchi). Acolhida é oferecer
um pedaço de pão antes de pedir a carteira de identidade.
“Quem vos recebe a mim recebe”.
Mt 10, 40
“Todo aquele que der de beber, nem que seja
um copo d’água fresca, a um desses pequenos, não perderá a sua recompensa”. Mt 10, 42
“Não são os que tem saúde que precisam de
médico, mas os doentes: eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores”. Mc 2, 17, Lc 5, 31
“Acolhei-vos, pois, uns
aos outros, como o Cristo vos acolheu, para a glória de Deus”. Rm 15, 7
Cristo nos relatou, nos Evangelhos, duas experiências básicas sobre a maneira de acolher:
a primeira refere-se ao bom samaritano, a segunda ao pai na parábola do filho pródigo ou do filho reencontrado.
“Mas um samaritano que
estava de viagem chegou perto do homem: ele o viu e tomou-se de compaixão. Aproximou-se, atou-lhe as feridas, derramando nelas
azeite e vinho, montou-o sobre a sua própria montaria, conduziu-o a uma hospedaria e cuidou dele.” Lc 10, 33-34
“Ainda estava longe, quando
o pai o avistou e foi tomado de compaixão; correu, se lhe lançou ao pescoço e o cobriu de beijos. O filho lhe disse: Pai,
pequei contra o céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho... Mas o pai disse aos seus servos: Depressa, trazei
a mais bela roupa e vesti-o; ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei
o bezerro cevado, matai-o, comamos e festejemos, pois este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado.”
Lc 15, 20-24
Os doze passos
Desenvolvidos pelos Alcoólicos Anônimos, eis os passos que são sugeridos
como um programa de recuperação:
Primeiro passo: Admitimos que éramos impotentes perante o álcool e o tóxico, que tínhamos perdido o domínio sobre nossas
vidas.
Segundo passo: Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.
Terceiro passo: Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que o concebíamos.
Quarto passo: Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
Quinto passo: Admitimos, perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
Sexto passo: Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
Sétimo passo: Humildemente rogamos a ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
Oitavo passo: Fizemos uma relação de todas s pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a
elas causados.
Nono passo: Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo
significasse prejudicá-las ou a outrem.
Décimo passo: Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.
Décimo primeiro passo: Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na
forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.
Décimo segundo
passo: Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólatras
e toxicômanos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.
Os 12 passos da Pastoral da Sobriedade
1. Admitir
2. Confiar
3. Entregar
4. Arrepender-se
5. Confessar
6. Renascer
7. Reparar
8. Professar a fé
9. Orar e vigiar
10. Servir
11. Celebrar
12. Festejar
RECURSOS
Recursos Físicos
Os grupos devem funcionar preferencialmente numa sala do salão
paroquial, escola, comunidade etc.
O local onde as reuniões serão realizadas deve ter uma sala
fechada, com cadeiras, uma mesa, quadro de avisos e outros materiais que se fizerem necessários.
Em geral as reuniões se realizam no período noturno. É importante
que se a sala tiver outro uso no período diurno, se respeite a decoração relativa ao grupo de auto-ajuda.
Recursos Didáticos
Para melhor conhecer e entender os objetivos da Pastoral da
Sobriedade é importante adquirir o livro das Edições Loyola intitulado: "Pastoral da Sobriedade".
O livro “Os Doze Passos para os Cristãos”, Edições
Loyola, São Paulo, é o livro básico para a realização dos trabalhos em grupo.
São necessários a Bíblia e literatura específica para a formação
de uma pequena biblioteca.
É importante que se providenciem cartazes com a oração da serenidade,
os doze passos e frases específicas sobre o assunto tais como: Só por hoje...! Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida.
Recursos Humanos
O grupo deve funcionar com um coordenador voluntário, com conhecimento
básico em dependência química, ligado à paróquia onde o grupo funciona que terá a função de dirigir os trabalhos.
O coordenador deverá ter um secretário que providenciará o necessário
para as reuniões como: cartazes, arrumação da sala, lanchinho, etc.
Este secretário pode ser um membro do próprio grupo.
ORIENTAÇÕES
- Os membros novos
do grupo devem ser sempre acolhidos com alegria e respeito por todos, fazendo as apresentações gerais e dando orientação de
como funciona o grupo.
- O sigilo é essencial
para que o grupo ganhe credibilidade e confiança. O que se fala no grupo, permanece no grupo.
- O horário deve
ser rigorosamente seguido para o bom andamento da reunião pois disciplina e organização fazem parte do processo de recuperação.
- Deve-se incentivar
a liderança dos participantes do grupo, podendo convidá-los a participar mais efetivamente das atividades.
- É adequado convidar
um palestrante para colaborar com a reunião, discorrendo sobre temas de interesse do grupo a fim de torná-la mais dinâmica.
- Pessoas que
queiram participar das reuniões estando alcoolizadas ou drogadas devem ser gentilmente impedidas pois podem perturbar o bom
desenvolvimento da reunião. Deve-se fazer uma abordagem individual, separado do grupo, orientando e incentivando a retornar
na próxima reunião, porém sóbrio.
- Diferenças de
opinião podem levar à discussões, as quais não devem ser estimuladas e sim levar os participantes a respeitar os diferentes
pontos de vista.
- Incentivar os
membros do grupo a trazer outros dependentes químicos para as reuniões, pois além de praticar o amor à Deus e ao próximo,
essa atitude incentiva sua própria recuperação.
- A sala deve
ter cartazes com frases sugestivas à recuperação, à valorização da vida e a auto-estima.
Sugestão de cartazes: Oração da Serenidade; Textos bíblicos tirados do Livro Base; Os objetivos
gerais e específicos etc.
- A coleta de
dinheiro durante a reunião pode ou não acontecer, sendo que a decisão deve ser tomada em conjunto; coordenador e participantes
e o objetivo de tal ato ser bastante claro para todos. Os recursos arrecadados devem ser utilizados para as despesas do próprio
grupo como: café, açúcar, copos, papel, livros, cartazes, etc.
- Reunião para
familiares dos dependentes químicos podem funcionar paralelamente às reuniões dos dependentes, em salas separadas, seguindo
as mesmas orientações dadas, salvaguardando as deferentes dificuldades e necessidades.
- Se houver opção
de reuniões aos domingos, elas podem ser realizadas de forma a terminar no horário do início da Missa pois os participantes
estariam estimulados a assisti-la após a reunião do grupo.
- O Pároco deve “aparecer”
em algumas reuniões, de forma a incentivar e participar dos problemas de seus paroquianos. Muitos dependentes sentem a necessidade
de falar de suas dificuldades com um Padre ou pessoa de sua confiança.
Oração
da Serenidade
Deus,
concedei-me,
A
serenidade para aceitar as coisas que eu não posso modificar;
Coragem
para modificar as coisas que posso, e
Sabedoria
para saber a diferença.
Vivendo
um dia de cada vez;
Desfrutando
um momento por vez;
Aceitando
as dificuldades como o caminho da paz;
Tomando,
como ele fez, este mundo pecaminoso como ele é, não como eu gostaria que fosse;
Confiando
em que ele fará todas as coisas certas se eu submeter-me à sua vontade.
Que
eu possa ser razoavelmente feliz nesta vida;
E
infinitamente feliz com ele para sempre na próxima.
Amém.
Reinhold Nieburhr
Oração da
sobriedade
Senhor, admito
minha dependência dos vícios e pecados, e que sozinho, não posso vence-los. Liberta-me.
Senhor, confio
em ti, ouve o meu clamor. Cura-me.
Senhor, entrego
minha vida, minhas dependências em tuas mãos. Espero em ti. Aceita-me.
Senhor, arrependido
de tudo que fiz, quero voltar para a tua graça, para a casa do Pai. Acolhe-me.
Senhor, confesso
meus pecados e, publicamente, peço teu perdão e o perdão dos meus irmãos. Absolve-me.
Senhor, renasço
no teu Espírito para a sobriedade. O homem velho passou, eis que sou uma criatura nova. Batiza-me.
Senhor, reparo,
financeira e moralmente a todos que, na minha dependência, eu prejudiquei. Ajuda-me a resgatar minha dignidade e a confiança
dos meus. Restaura-me.
Senhor, professo
que creio na Santíssima Trindade e peço ajuda da Igreja, com a intercessão de todos os santos. Instrui-me na tua palavra.
Senhor, orando
e vigiando para não cair em tentação, seremos perseverantes nos teus ensinamentos. Dá-me a tua paz.
Senhor, servindo,
a exemplo de Maria, nossa mãe e mãe de todos, queremos, gratuitamente, fazer dos excluídos os nossos preferidos, através da
Pastoral da Sobriedade.
Senhor, celebrando
a eucaristia em comunidade com os irmãos, teremos força e graça, para perseverarmos nesta caminhada. Alimenta-nos no corpo
e sangue de Jesus.
Senhor, festejando
os doze passos para a sobriedade cristã, irmanados com todos, na mesma esperança, por um século sem drogas, queremos partilhar
e anunciar Jesus Cristo redentor, pelo nosso testemunho.
Amém.
Bibliografia
Escolha a felicidade
- vida sem drogas - Nilo Momm e Juliana Camargo Momm - Edições Loyola
Prevenção ao uso
de drogas - Nilo Momm e Vilsom Basso - CCJ/CNBB - Centro de Capacitação da Juventude
Amor exigente
- Phyllis e York, David - Edições Loyola
Amor exigente
- para professores - Menezes, Mara Silva C - Edições Loyola
Doze passos para
os cristãos - Edições Loyola
O que é amor exigente
- Menezes, Mara Silvia C. - Edições Loyola
Os 12 passos da
Pastoral da Sobriedade - Edições Loyola
Os doze passos
na perspectiva da mulher - Covington, Stephanie S. - Edições Loyola
Toxicômanos anônimos
- Edições Loyola
Um dia por vez
- Edições Loyola
Só por hoje, amor
exigente - Ferreira, Silva Beatriz - Edições Loyola
nilomomm@yahoo.com.br
http://nilomomm.tripod.com
Palestra proferida no Instituto Pastoral da Juventude em Porto Alegre.