Vida sim, drogas não.
Nilo Momm
"Vida sim, drogas não" é o lema da Campanha
da Fraternidade, aprovado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para o ano 2001.
A Campanha da Fraternidade de 2001, ao colocar
em pauta a questão das drogas, será uma interpelação da consciência pessoal e coletiva e um apelo à conversão, para que, diante
do desafio dessa expressão da anticultura da morte, respondamos com a defesa e a promoção da vida, pois a Igreja tem a convicção
de que a vida é o primeiro de todos os bens, em consonância com os ensinamentos e a missão de Jesus, que afirma: "Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância" (Jo 10,10).
Vida sim
A vida é um bem tão precioso que a grande
promessa de Jesus é que ela será eterna, porque o nosso Deus é o Deus da vida. Este Deus da vida quer também a vida, a mais
feliz possível, já, aqui e agora, não só depois da morte.
No Evangelho segundo São João, Jesus nos
diz que quem nele crê tem a vida eterna. Não diz terá; fala no presente. Trata-se também desta vida mesmo, daqui da terra,
vivida no clima de Deus, cheia de um novo sentido.
Dom Hélder Câmara, de saudosa memória, não
se cansava de dizer: Feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver.
A droga não é o problema principal do dependente. O consumo de droga é somente uma resposta falaz
à falta de sentido positivo da vida.
No centro da dependência se encontra o homem, sujeito único e irrepetível, com sua interioridade
e personalidade específica, objeto do amor do Pai que, em seu plano salvífico, chama a cada um à sublime vocação de filho.
Sem dúvida, a realização de tal vocação é – junto com a felicidade neste mundo – gravemente comprometida pelo
uso da droga, porque ela, na pessoa humana, imagem de Deus (Gn 1, 27), influi sobre a sensibilidade e sobre o reto exercício
do intelecto e da vontade.
Não podemos viver sem esperança. Temos de
ter algum objetivo na vida, algum significado para nossa existência. Temos de aspirar a alguma coisa. Sem esperança, começamos
a morrer.
A Igreja é “especialista em humanidade”. No centro de suas preocupações está o homem, objeto do amor criador, redentor e santificador de Deus,
Uno e Trino. Jesus Cristo, “propter nos homines et propter nostram salutem” (por nós homens e por nossa salvação),
desceu do céu, se encarnou, morreu e ressuscitou.
A pessoa é chamada a viver em (ex sistere)
comunhão com Deus, consigo mesma, com o próximo, com o ambiente. Viver tais relações, em especial aquela com os outros, torna evidente a plena e integral vocação
da corporeidade masculina e feminina, que desvela o sentido profundo da vida humana, como vocação ao amor.
A proposta da Igreja é um projeto evangélico sobre o homem. Anuncia a
todos que vivem o drama da toxicodependência e sofrem uma existência miserável, o amor de Deus que não quer a morte mas a
conversão e a vida (Ez. 18, 23). Aqui se trata da vida plena, da vida eterna, proclamada em meio a situações que a põem em
perigo ou a ameaçam.
Ao toxicodependente, carente fundamentalmente de amor, tem que fazer conhecer
e experimentar o amor de Jesus Cristo. Em meio a uma decisão atormentada, no vazio profundo da própria existência, o caminho
até a esperança passa pelo renascer de um ideal autêntico de vida. Tudo isto se manifesta plenamente no mistério da revelação
do Senhor Jesus. Quem toma substâncias entorpecentes deve saber que, com a graça de Deus, é capaz de abrir-se a quem é “o
caminho, a verdade e a vida” (Jo. 14, 6).
Drogas não
O uso habitual de drogas, porque capaz de
aniquilar a médio prazo o discernimento do homem, tornando-o indiferente ao certo e ao errado e alheio à noção de responsabilidade,
agride-lhe gravemente a dignidade de ser pensante e de indivíduo livre.
O uso da droga causa gravíssimos danos à saúde e à vida humana. Salvo indicações estritamente
terapêuticas, constitui falta grave. A produção clandestina e o tráfico de drogas são práticas escandalosas; constituem uma
cooperação direta com o mal, pois incitam a praticas gravemente contrárias à lei moral.
Drogas são geradoras de morte. Estão, em conseqüência, em desacordo com o projeto de Deus para
a humanidade.
O comércio, com o conseqüente consumo de substâncias entorpecentes,
constitui uma séria ameaça para as estruturas sociais das nações americanas. Isto “contribui para a criminalidade e
a violência, para a destruição da vida familiar e da vida física e psicológica de muitos indivíduos e comunidades, sobretudo
dos jovens. Além disso, corrói a dimensão ética do trabalho, favorecendo o aumento de pessoas recluídas em cárceres, numa
palavra, o envilecimento da pessoa criada à imagem de Deus”. Um comércio tão funesto como este causa, ademais, a “destruição
de governos, corroendo a segurança econômica e a estabilidade das nações”.
Escolher a vida
Somos aquilo que escolhemos. Saber escolher é decisivo na vida. Vou
me tornando aquilo que escolho. Não existe caminho traçado. Não existe determinismo. Ninguém pode dizer: “eu nasci assim
e minha vida vai continuando assim”. A vida é uma escolha permanente. Uma escolha que faz renunciar outras escolhas.
Em cada dia renova-se a escolha. Minhas ações, meu trabalho vão caminhando segundo minhas escolhas.
É preciso sempre escolher a vida.. Ter capacidade de escolha é exercer
a decisão de sempre escolher aquilo que ajuda a viver, aquilo que promove a vida. Escolher em cada dia tudo aquilo que ajuda
a viver, é deixar de lado comidas e bebidas que estragam o corpo, as drogas que destroem a capacidade de livre decisão, é
deixar de lado emoções e sentimentos que prejudicam, é saber abandonar preocupações que apenas tiram o sono e a alegria da
vida.
A escolha da vida é a escolha do que nosso coração mais deseja. Somos
feitos para viver. Saber escolher a vida é saber escolher a Deus. É escolher tudo aquilo que é de Deus. É escolher o amor
e a paz. É escolher as pessoas, que são um desejo de vida. É escolher a natureza que continuamente renova a vida no universo.
Em cada dia há uma nova escolha, porque tudo em nós é mudança, é evolução,
é nova oportunidade. Porém, é bom saber que a escolha é acompanhada de uma renúncia. A escolha maior deixa no caminho outros
desejos que necessitam ser renunciados para a escolha definitiva. A escolha definitiva será a soma das escolhas que foram
feitas durante a vida. Se escolhemos viver, teremos como recompensa a vida plena e eterna, a felicidade.
Princípios básicos
Existem princípios básicos para uma vida proveitosa e as pessoas podem
conquistar a verdadeira felicidade duradoura quando aprendem a respeitar estes princípios básicos.
Uma lei gravada na natureza humana... Aceitação sincera dos princípios imutáveis... Contemplando os valores sagrados e adotando-os como seus, o homem progride em sua auto-afirmação e auto-realização.
Os dons exclusivamente humanos que Deus nos deu, da autoconsciência,
da imaginação e da consciência nos dão o poder de escrever os nossos próprios papéis. Trata-se na realidade de reescrevê-los,
ou seja alterar os nossos paradigmas, na medida em que os reconhecemos como ineficazes ou incompletos.
Somos capazes de usar a imaginação e a criatividade para escrever novos
papéis, mais eficazes, mais de acordo com nossos valores mais profundos e com os princípios corretos que lhes dão sentido.
O comportamento humano é baseado no binômio plantar - colher. As pessoas colhem o que semearam.
Não existe nenhum atalho.
Existem três mapas sociais amplamente aceitos:
O primeiro é o mapa genético que diz que a culpa de tudo é de seus avós.
Por causa deles você é tão mal humorado, tão desastrado. Está tudo registrado no DNA. Passa de geração em geração. Você herdou
tudo.
O segundo é o mapa psíquico que diz que a culpa é de seus pais. Sua
educação e as experiências da infância o fizeram assim. Deram forma a sua personalidade e a estrutura de seu caráter. Lá no
fundo você sempre se lembra do roteiro emocional que decorou quando era muito
pequeno.
O terceiro é o mapa ambiental que diz que a culpa é do seu amigo, do
seu chefe, da sua mulher, do seu marido, do filho adolescente respondão, da situação econômica, do padre, do governo, dos
políticos... Alguma coisa em seu meio ambiente é responsável por sua situação.
Cada um destes mapas baseia-se na teoria de Pavlov do estímulo e resposta
com base em experiência com cachorros. Somos condicionados a reagir de determinada maneira a um estímulo particular. Para
cada ação existe uma reação natural.
Mas isto é só para cachorro. Nós somos humanos e, para nós, entre cada
estímulo e resposta encontra-se a liberdade de escolha, o livre arbítrio do ser humano.
Dons humanos
Deus nos deu dons especiais que nos distinguem dos demais animais. Temos
a autoconsciência (habilidade para pensar a respeito do próprio processo de pensamento), a imaginação (capacidade para criar
na mente imagens que superam a realidade), a moral (consciência profunda do que é certo ou errado) e a livre escolha (capacidade
para agir conforme nossa autoconsciência, livre de qualquer influência). E ainda podemos fazer tudo isto com humor. Com muito
humor...
Nossos dons exclusivos nos elevam acima do mundo animal.
As drogas agem exatamente sobre estes dons humanos. Isto nos leva a
pensar que as mesmas nos tornam semelhantes aos animais irracionais.
Nada mais correto do que dizer que o usuário de drogas, ao longo de
sua trajetória, se afasta aos poucos do status de homem livre e se transforma, por fim, em um imbecil.
Por outro lado, não se deve subestimar que o usuário de drogas, muitas
vezes, acredita que é um homem livre, senhor de seus atos. Ocorre que, alienado em sua pseudo liberdade, o usuário de drogas
deixa de considerar "a vida um dom esplêndido de Deus, uma realidade sagrada confiada à sua responsabilidade e, consequentemente,
à sua amorosa defesa, à sua veneração".
Deus fez boas todas as coisas e criou o homem à sua imagem e semelhança, livre e senhor responsável
de toda a criação. Deus conferiu ao homem o domínio sobre a terra, mas impôs-lhe limites no uso da natureza. O homem não é,
desta forma, o senhor absoluto da criação (Gn 1-3).
Deus, quando criou o homem o fez a sua semelhança e o criou único. Nos seis bilhões de habitantes
que existem sobre a terra, não existem dois exatamente iguais, não existiram e não existirão. "Uno, único e irrepetível... Eternamente idealizado, eternamente escolhido, chamado e denominado
por seu nome".
Vivem sem felicidade verdadeira porque não tem esperança. Precisamos chegar até eles como mensageiros
da esperança.
Não podemos viver sem esperança. Temos de ter algum objetivo na vida, algum significado para nossa
existência. Temos de aspirar a alguma coisa. Sem esperança, começamos a morrer.
Vós nos fizestes para vós, ó Senhor, e nossos corações permanecem aflitos enquanto não descansam
em vós. (Santo Agostinho)
O homem vai para Deus, seu destino final. Ele viaja em direção à cidade santa. (Sl 122, 1-4; Is
2, 2-5 e 35, 10). Um peregrino a caminho do absoluto.
A posição da Igreja
O problema das drogas em toda a sua extensão, isto é, da produção ao consumo, é uma corrente de
males de caráter pessoal e estrutural. É verdadeiro pecado que atenta contra a vida e a dignidade humana.
A droga é um mal e ao mal não se dá trégua. A legalização, mesmo que parcial, mesmo sendo uma
interpretação da índole da lei, não surtiu os efeitos previstos.
A posição da Igreja é firme e continua clara: não legalizemos as drogas. A legalização das drogas é apenas uma perigosa ilusão, porque não enfrenta o efeito devastador da dependência
e deixa de lado o compromisso da prevenção.
Toxicodependência e alcoolismo, pela intrínseca gravidade e pela devastadora extensão, são dois
fenômenos que ameaçam o gênero humano, tirando de cada indivíduo, no ambiente familiar e no tecido da sociedade, as profundas
razões da esperança que, para ser verdadeira, há de ser esperança na vida - esperança de vida.
Toxicodependência e alcoolismo são contra a vida. Não se pode falar de "liberdade de se drogar"
nem de "direito à droga", porque o ser humano não tem o direito de prejudicar-se e não pode nem deve nunca abdicar da dignidade
pessoal que vem de Deus.
Traficantes da liberdade de seus irmãos, que os fazem escravos com uma escravidão mais terrível
do que a escravidão dos negros. Os mercadores de escravos impediam o exercício da liberdade. Os narcotraficantes reduzem suas
vítimas à destruição da própria personalidade.
A droga é um voto interior de evasão e sufoca a essência do espírito muito antes da destruição
física.
Há um voto existencial solitário, devido à ausência de valores e a uma falta de confiança em si
próprio, nos outros e na vida em geral.
Só o empenho pessoal do indivíduo, sua vontade revigorada e sua capacidade de autodomínio podem
assegurar o retorno do mundo alucinante dos narcóticos à normalidade.
A distinção entre drogas leves e pesadas negligencia e atenua os riscos inerentes a toda sorte
de produto tóxico, em particular os que levam à dependência, por atuarem sobre as estruturas psíquicas, reduzindo a consciência
do indivíduo e levando-o à alienação da vontade e da liberdade pessoais.
A perda do ideal e do engajamento na vida adulta que observamos nos jovens torna-os particularmente
frágeis. Seguidamente, eles não são incitados a lutar por uma existência correta e bela, mas acabam por desenvolver a tendência
de se fechar em si mesmos. Não sabemos mais minimizar o efeito devastador exercido pela desocupação de que são vítimas os
jovens, em proporções indignas de uma sociedade que pretende respeitar a dignidade humana.
Os jovens que tem uma personalidade estruturada, uma formação humana e moral sólida, e que vivem
relações harmoniosas e confiantes com os colegas de sua idade e com os adultos, estão mais aptos a resistir às solicitações
daqueles que propagam a droga.
A virtude da temperança manda evitar toda espécie de excesso, o abuso da comida, do álcool, do
fumo e dos medicamentos. Aqueles que, em estado de embriaguez ou por gosto imoderado pela velocidade, põem em risco a segurança
alheia e a própria, nas estradas, no mar e no ar, tornam-se gravemente culpáveis.
A proposta da Igreja
A luta contra o flagelo da toxicomania é ocupação de todos, cada um segundo a responsabilidade
que lhe cabe.
Aos toxicodependentes, às vítimas do alcoolismo, às comunidade familiares e sociais, que tanto
sofrem por causa desta enfermidade dos seus membros, a Igreja, em nome de Cristo, propõe como resposta e como alternativa
a terapia do amor. Deus é amor, e "quem não ama permanece na morte" (1Jo 3,14). Mas quem ama saboreia a vida e permanece nela!
Não se combatem os fenômenos da droga e do alcoolismo nem se pode conduzir uma eficaz ação para
a recuperação das suas vítimas, se não se recuperarem preventivamente os valores humanos do amor e da vida, os únicos capazes,
sobretudo se iluminados pela fé religiosa, de dar significado pleno à nossa existência.
Esse mal pede um novo empenho de responsabilidade no interior das estruturas da vida civil e,
em particular, mediante a proposta de modelos de vida alternativos.
Prevenção, repressão, reabilitação: estes são os pontos centrais de um programa que, concebido
e levado a efeito à luz da dignidade do homem, embasado na honesta relação entre os povos, terá o reconhecimento e o apoio
da Igreja.
A resposta da Igreja ao fenômeno da toxicodependência é uma mensagem de esperança e um serviço
que vai além do fato em si, pois chega ao núcleo central da pessoa humana. Não se limita a eliminar somente o mal, mas propõe
também a redescoberta do verdadeiro sentido da vida. É um serviço da escola evangélica e realizado por meio de formas concretas
de acolhida, que, na prática, traduzem uma proposta de vida e uma mensagem de amor.
Para a estratégia de prevenção é necessário o concurso "de toda a sociedade: pais, escola, ambiente
social, meios de comunicação social, organismos internacionais; um empenho para formar uma sociedade nova, com o rosto do
homem; a educação para ser homem".
A família é, sem dúvida alguma, a referência principal de cada ação de prevenção. Exorto, portanto, os cônjuges a desenvolver relações conjugais e familiares estáveis, fundadas num amor
único, durável e fiel.
Mas para todos aqueles que já caíram na espiral das drogas, são necessários oportunos caminhos
de cura e de reabilitação, que vão muito além do tratamento médico, porque, em muitos casos, apresenta-se todo um complexo
de problemas que requerem a ajuda da psicoterapia, seja do sujeito individual, seja do próprio núcleo familiar, em conjunto,
com um adequado sustento espiritual.
Convido os pais que tenham um filho toxicômano a jamais se desesperar, a manter o diálogo com
ele, a prodigalizar-lhe sua afeição e a favorecer seus contatos com estruturas capazes de assumir o encargo da cura. A atenção
calorosa da família é o grande sustentáculo na luta interior, para o sucesso da cura e da desintoxicação.
Os bispos, reunidos em Santo Domingo, propõem: "Quanto ao problema da droga, implementar ações
de prevenção na sociedade e de atenção e cura dos toxicômanos; denunciar com coragem os males que o vício e o tráfico da droga
produzem em nossos povos, e o gravíssimo pecado que significa a produção, a comercialização e o consumo. Chamar especialmente
a atenção para a responsabilidade dos poderosos comerciantes e consumidores. Promover a solidariedade e a cooperação internacional
no combate a este flagelo".
Seja estimulada também a obra dos que se esforçam por recuperar os que se drogam, dedicando uma
atenção pastoral às vítimas da toxicodependência: é fundamental oferecer o justo “sentido da vida” às novas gerações
que, se este vier a faltar, terminam freqüentemente caindo na espiral perversa dos entorpecentes. Este trabalho de reabilitação
social também pode constituir um verdadeiro e próprio empenho de evangelização.
A Pastoral da Sobriedade
A Pastoral da Prevenção e Recuperação em Dependência Química, agora chamada Pastoral da Sobriedade,
deu seus primeiros passos em 1997 e foi criada na 36ª Assembléia Geral da CNBB, em abril de 1998.
Pastoral da Sobriedade é a expressão do Amor gratuito do Pai que desperta em nós a solidariedade
com o mundo e com a humanidade, fazendo dos excluídos os nossos preferidos.
Alguns elementos caracterizam a nossa Pastoral:
·
A Pastoral da Sobriedade é Pastoral, isto é,
continuação da presença e da ação misericordiosa, amorosa, acolhedora e libertadora de Jesus o Bom Pastor e Bom Samaritano,
que acolhe sem reserva, salva, regenera, ressuscita e chama Lázaro a sair do túmulo e a experimentar o novo.
·
É uma ação da Igreja, vivida a corpo, em comunhão
com a Igreja e com o amor recíproco entre nós, para permitir a Jesus Ressuscitado viver no meio de nós e fazer passar os dependentes
da morte para a vida.
·
É fundamentada na vivência do Evangelho que
não apenas liberta das drogas mas faz entrar na dinâmica da vida de Amor de Deus e faz os homens novos que encontram a plenitude
e alegria de viver na doação de si.
·
Não é apenas libertação das drogas, mas é proposta
de vida nova, reconstrução da dignidade e do valor dos dependentes, imagem e semelhança de Deus que, transformados pelo Evangelho
e pelo encontro com Jesus Vivo, assumem um novo projeto de vida, entram na dinâmica trinitária da doação e comunhão e descobrem
um novo sentido de vida.
·
A recuperação e a libertação é ação de Deus
e não apenas esforço humano, mas valoriza e se serve de todos os recursos médicos e psicológicos oferecidos pelas ciências
humanas.
·
A Pastoral da Sobriedade é Pastoral Ecumênica
que conclama a todas as Igrejas e pessoas de boa vontade a colaborar e lutar por uma vida plena.
A Pastoral pode atuar nas Paróquias e Dioceses em cinco frentes de trabalho, segundo as possibilidade
de cada lugar:
a) no Campo da Prevenção, para o público que nunca experimentou drogas e para quem já experimentou mas não é usuário,
criando grupos ligados à Pastoral da Sobriedade, às demais pastorais e movimentos eclesiais ou grupos preocupados com esta
realidade, atuando nas escolas, na catequese, e criando e publicando material apropriado;
b) no Campo da Intervenção, para o público que já se iniciou no uso de drogas mais ainda não se tornou dependente com
necessidade de internação, incentivando a abertura de novos grupos de auto-ajuda nas comunidades, paróquias e escolas como
o AA, NA, NATA, NAFTA, AMOR EXIGENTE, TOXICÔMANOS ANÔNIMOS;
c) no Campo de Recuperação para os usuários de drogas já dependentes, através de comunidades terapêuticas que trabalharão
em conjunto com grupos de auto ajuda.
d) no Campo da Reinserção Social, visando a colaboração da família, da comunidade eclesial
e da sociedade civil para o pleno retorno à vida plena.
e) atuação política: desenvolverá reflexão e atividades juntos aos organismos
que atuam na sociedade (Conselhos, fóruns...), defendendo sempre uma política "antidrogas" que seja eficaz, prática e que
gere vida.
Quanto ao grave problema do comércio das drogas, a Igreja na América pode colaborar eficazmente com os responsáveis
das Nações, os dirigentes de empresas privadas, as organizações não governamentais e as instâncias internacionais para elaborar
projetos destinados a eliminar tal comércio, que ameaça a integridade dos povos na América. Esta colaboração deve estender-se
aos órgãos legislativos, apoiando as iniciativas que impedem a “reciclagem do dinheiro”, favorecem o controle
dos bens dos que estão envolvidos neste tráfego e cuidam que a produção e o comércio das substâncias químicas com que se obtêm
as drogas se realizem de acordo com a lei.
A Companha da Fraternidade de 2001
A Campanha da Fraternidade de 2001, tem por objetivo geral mobilizar a comunidade eclesial e a
sociedade para enfrentar o grave e complexo problema das drogas. Como objetivos específicos:
a) contribuir para que a comunidade eclesial e a sociedade sejam mais sensíveis ao compleco problema
das drogas , às suas vítimas e às suas danosas conseqüências;
b) mobilizar a própria Igreja para se colocar, mais ainda, profeticamente em favor da vida e da
dignidade da pessoa humana, particularmente dos empobrecidos e excluídos;
c) anunciar para o novo milênio uma sociedade sem exclusões, em que a pessoa seja o centro, a
vida não se subordine à lógica econômica e o trabalho não se reduza à mera sobrevivência, mas promova a vida em todas as suas
dimensões;
d) incentivar amplo movimento de solidariedade para manter viva a esperança das vítimas diretas
das drogas, divulgando iniciativas já existentes e estimulando novas;
e) denunciar "com coragem e com força o hedonismo, o materialismo e aqueles estilos de vida que
facilmente induzem à droga", bem como os mecanismos sociais do mercado neoliberal que, com seu padrão de consumo insaciável, aumenta
a competição e o individualismo, deixando um vazio existencial nas pessoas nele integradas e revolta nas que dele são excluídas,
levando umas e outras para o mundo das drogas.
Para que isto aconteça somos chamados a ser portadores de uma mensagem de vida, de alegria e de
esperança. Como nosso pai Abraão somos convidados a "esperar mesmo quando não há mais esperança"(Rm 4,18).
Aqui não vale o critério estatístico. Cada vida precisa ser preservada. Como o bom pastor, não
basta que salvemos noventa e nove por cento das ovelhas. Aquela que está perdida precisa ser socorrida.
É preciso propor alternativas emocionantes, gratificantes. A própria fé é para ser vivida com
a alegria de quem descobre um sentido para a vida e proclama que viver é uma aventura capaz de grandes emoções.
Somos Igreja a serviço do evangelho da vida, vida a ser desenvolvida com dignidade, alegria, paz.
Que o mundo fique um pouquinho melhor depois que nós aqui vivemos.
Bibliografia
Pastoral da Sobriedade, Nilo Momm, Edições Loyola, 1999.
Prevenção ao uso de drogas, Nilo Momm e Vilsom Basso, Centro de Capacitação da Juventude, CNBB,
1998.
Escola a Felicidade, Vida sem Drogas, Nilo Momm e Juliana Camargo Momm, Edições Loyola, 2000.
Texto-Base da CF 2001, Vida sim, drogas não, CNBB, 2000.
Publicado:
Encontros Teológicos
Instituto Teológico de Santa Catarina - ITESC
João Paulo II, Redemptionis Donum, 13.
João Paulo II, Sinal de Contradição, 18.1.