O álcool
A palavra álcool deriva do árabe "alkuhl" que significa essência.
Toda a história da humanidade está permeada pelo consumo
de álcool. Registros arqueológicos revelam que os primeiros indícios sobre o consumo de álcool pelo ser humano datam de aproximadamente
6000 a.C., sendo portanto, um costume extremamente antigo e que tem persistido por milhares de anos. A noção de álcool como
uma substância divina, por exemplo, pode ser encontrada em inúmeros exemplos na mitologia, sendo talvez um dos fatores responsáveis
pela manutenção do hábito de beber ao longo do tempo.
O achado mais antigo, sobre o uso de álcool pelo homem, encontrado até hoje é um jarro
de cerâmica, descoberto em escavações feitas em 1968 ao norte do Irã, por pesquisadores americanos liderados por Patrick McGovern
e publicado na revista Nature em junho de 1996. Esse jarro continha resíduos de vinho resinado, feito entre 5400 a.C. e 5000
a.C., o que indica que o vinho é tão antigo quanto a civilização humana.
O vinho foi descoberto a partir da fermentação ocorrida de forma espontânea em frutas
como a uva, deixadas em contato com o ar. Até a época de Pasteur (1870) era hábito colocar resina no vinho para impedir o
desenvolvimento de bactérias que fazem a transformação em vinagre. Pasteur descobriu as causas de certos problemas que afetavam
a qualidade da cerveja e inventou o processo de pasteurização para preveni-los. A partir de então a produção de vinho obteve
pureza e durabilidade.
A cerveja surgiu da fabricação de bebidas a partir da fermentação de grãos de cevada,
que começou no Egito e na Babilônia, num processo descoberto ao acaso possivelmente durante a fabricação de pães. A cerveja
foi a primeira bebida alcoólica produzida pelo homem em grande escala.
O relato mais remoto das origens do álcool e do alcoolismo encontra-se na Bíblia Sagrada,
no Gênesis, capítulo 9, que evidencia Noé como um plantador de videiras, usuário de álcool que as vezes se embriagava. O Antigo
Testamento refere também casos onde o álcool é responsável por graves pecados, como o incesto e homicídios.
Baco, o deus do vinho, dizia que quem bebesse aquele líquido mágico ou sagrado, além
de alegre, ficaria possuído de talentos e poderes divinos. Era uma ilusão.
No raiar das civilizações, as bebidas alcoólicas tinham várias funções. Entre os sumérios
(2000 a.C) eram usadas com fins medicinais (diurético, revigorante). O vinho era uma das oferendas aos deuses. No Egito antigo
e na Assíria, as festas religiosas e em homenagem ao deus da agricultura Osiris eram feitas por dias seguidos e regadas com
muita bebida, proporcionando bebedeiras coletivas.
A partir de 1880 chegaram ao Brasil as primeiras grandes fábricas de cerveja.
Albucasis, um químico árabe, descobriu no século XI a técnica da destilação, utilizando
o alambique, com que obtinha bebidas fortes, com alta concentração de álcool. A destilação do vinho deu origem ao conhaque.
Os destilados inicialmente foram utilizados como medicamentos na forma de licores. Desde que tomados com moderação, eram recomendados
como tônico para combater doenças e infecções, como analgésico para aliviar as dores, combater o reumatismo, melhorar o rendimento
no trabalho e estimulante para combater o frio.
Inicialmente, as bebidas tinham conteúdo alcoólico relativamente
baixo, como por exemplo o vinho e a cerveja, já que dependiam exclusivamente do processo de fermentação. Com o advento do
processo de destilação, introduzido na Europa pelos árabes na Idade Média, surgiram novos tipos de bebidas alcoólicas, que
passaram a ser utilizadas na sua forma destilada. Nesta época, este tipo de bebida passou a ser considerado como um remédio
para todas as doenças, pois "dissipavam as preocupações mais rapidamente do que o vinho e a cerveja, além de produzirem um
alívio mais eficiente da dor", surgindo então a palavra whisky (do gálico usquebaugh, que significa "água da vida").
Em 1488 foi descoberto o uísque que em gaélico significa água da vida. Era a bebida preferida
dos irlandeses.
Os índios brasileiros já conheciam o cauim quando os portugueses aqui chegaram por volta
de 1500.
O Código de Hamurabi, uma das primeiras constituições do mundo, elaborado em torno de
1700 a.C, na Babilônia, regulamentava a comercialização das bebidas alcoólicas.
Conforme a mitologia grega, (1500 a.C) o deus Osiris ensinou aos homens a arte de fabricar
vinho. Dionísio era cultuado entre os gregos como o deus da embriaguez, enquanto em Roma passou com o nome de Baco.
Platão pregava a proibição do consumo de bebidas alcoólicas até os dezoito anos de idade,
o uso moderado para os adultos e liberdade de consumo para os idosos. Os astecas também puniam severamente a embriaguez nos
jovens e permitiam o livre consumo para os idosos.
O Talmude faz advertência sobre os perigos do álcool, dizendo que a embriaguez desvia
a mente da verdade e ressalta a importância da abstinência no desenvolvimento espiritual dos homens.
O álcool atua nos dois polos do nosso humos. Em pequenas doses provoca relaxamento, desinibição,
alegria, prazer. Em doses maiores produz euforia, diminuição dos reflexos, labilidade e descontrole emocional, fala arrastada,
agressividade. O uso contínuo provoca a dependência, reconhecida como doença pela Organização Mundial de Saúde. As conseqüências
do uso contínuo são: neurites, dores musculares, amnésia, hepatite alcoólica, diarréia, disfunções sexuais, hipertensão arterial,
tremores, sudorese, náuseas e vômitos, fraqueza, irritabilidade, insônia, delirium tremens, etc.
A primeira grande intoxicação da humanidade pode ser considerada a que ocorreu com os
fermentados (vinho e cerveja) que desde os gregos e romanos deixou marcas lamentáveis.
A segunda intoxicação da humanidade deveu-se aos destilados, fabricados e consumidos
em grande escala no período da Revolução Industrial. Nunca os alambiques trabalharam tanto. No início do século XX o descontrole
no uso das bebidas alcoólicas nas grandes cidades americanas e européias deflagrou severa reação dos médicos, religiosos e
governantes que determinou a proibição da elaboração e comercialização de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos, Rússia, Grã
Bretanha, Noruega, Finlândia, Bélgica e Islândia.
Nos últimos vinte anos está ocorrendo um grande consumo de álcool na Rússia, tendo-se
registro de uma queda de mais de sete anos na idade média da população total, principalmente devido a mortes na idade considerada
produtiva, em decorrência do abuso de álcool, especialmente vodka. A idade média que já havia chegado a 64 anos hoje não passa
de 57, de acordo com estatísticas recentes.
Em alcoolismo não existem definições universalmente aceitas, nos diz James R. Milan em
"Alcoolismo mitos e realidades".
O alcoolismo é uma doença crônica, progressiva e incurável que cria dependência seletivamente.
O alcoolismo é uma doença que pode ser contida mas não curada e a pedra angular de plena recuperação tem de ser a abstinência
total e contínua do álcool e de drogas substitutas. A sobriedade tem de ser a primeira prioridade.
Médicos e psiquiatras entretanto não chegam a um acordo se a fisiologia ou a psicologia
determinam se um bebedor se tornará dependente do álcool ou não. Dizem os médicos que os genes, enzimas, hormônios, encéfalo
e outras químicas do corpo do alcoólatra atuam em conjunto para criar sua reação anormal e infeliz ao álcool. Já os psiquiatras
acham que, pelo menos em parte, o problema do álcool é causado por fatores sociais, culturais e psicológicos e, por conseguinte,
tratável por meio de métodos de saúde mental tais como as várias psicoterapias e técnicas de modificação de comportamento.
Esta opinião dos psiquiatras é baseada em Sêneca (4 a.C. - 65 d.C): "A embriaguez nada
mais é que uma condição de insanidade assumida propositadamente".
Em 1804, Thomas Trotter, médico de Edimburgo, escreveu: "Em linguagem médica, considero
a embriaguez, estritamente falando, uma doença, produzida por uma causa remota e dando origem a ações e movimentos no corpo
vivente que desordenam as funções da saúde".
Em 1841 foi fundada a primeira instituição para inebriados, a Washington Home, em Boston
e em 1870 foi fundada a Associação Americana para a Cura dos Inebriados, depois chamada de Associação para o Estudo da Embriaguez.
Em 1935 surgia a Irmandade dos Alcoólicos Anônimos A.A.
Finalmente, em 1956, a Associação Média Americana votou o alcoolismo como uma moléstia.
De forma direta, o tema específico do alcoolismo foi incorporado pela OMS à Classificação
Internacional das Doenças em 1967 (CID-8), a partir da 8ª Conferência Mundial de Saúde. No entanto, essa questão não pode
ser vista apenas como um fato cronológico. A questão do impacto sobre a saúde provocado pelo abuso do álcool já vinha sendo
objeto de discussão pela OMS desde o início dos anos 50, compondo um processo longo de maturação (que até hoje ainda é objeto
de contendas médico-científicas). Consta que em 1953 a OMS, através do seu Expert Comittee on Alcohol, já havia decidido que
o álcool deveria ser incluído numa categoria própria, intermediária entre as drogas provocadoras de dependência e aquelas
apenas formadoras de hábito (sobre isso consulte o documento da OMS denominado: Technical Repport 84,10 (1954).
O álcool etílico ou etanol é, na realidade, um excremento de levedura, um fungo voraz
por coisas doces. Quando a levedura encontra mel, frutas, cereais ou batatas, por exemplo, libera uma enzima que converte
o açúcar em dióxido de carbono (CO2) e álcool (CH3 CH2 OH). Este processo é conhecido como
fermentação. A levedura continua a se alimentar de açúcar até que morre de intoxicação alcoólica aguda quando a concentração
de álcool atinge 13 ou 14%, cessando a fermentação natural.
A destilação, que foi descoberta mais ou menos no ano 800 na Arábia, é o processo feito
pelo homem destinado a aasumir onde cessa a ação da levedura. As bebidas destiladas contém entre 40 e 75% de álcool puro.
O processo de eliminação do álcool no organismo começa logo que ele entra no fígado.
Uma enzima chamada desigrogenase da álcool (ADH) ataca a molécula do álcool removendo rapidamente dois átomos de hidrogênio
para criar uma nova substancia chamada acetaldeido, que é um agente altamente tóxico. Por isso o fígado inicia imediatamente
um segundo processo, emprega outra enzima, desidrogenase do aldeido, para transformar o acetaldeido em acetado. O acetato
é então convertido em dióxido de carbono e água e eliminado do corpo. No alcoólatra a segunda parte do processo é muito mais
lenta do que a primeira fazendo que grandes quantidades de acetaldeido permaneçam por longos períodos no organismo. O fígado
normal processa cerca de quinze mililitros de álcool por hora.
Um bom programa de tratamento inclui os seguintes passos:
-
Desintoxicação sob internamento
-
Assistência sob internação
-
Programas educacionais que informem sobre a
doença
-
Formação para um novo estilo de vida (sem álcool)
-
Terapia e educação nutricional
-
Participação em grupo de auto-ajuda (compromisso)
-
Assistência de reinserção social
-
Envolvimento da família no tratamento.
Cerca de 15% da população brasileira é alcoólatra, de acordo com levantamento realizado
pelo Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em
São Paulo. Dados obtidos em outros países giram em torno de 12% a 13%, segundo o coordenador do grupo, Arthur Guerra de Andrade.
O levantamento, que foi divulgado ontem por Andrade durante o Encontro Álcool e suas
Repercusões Médico-Sociais, em São Paulo, foi feito com base no cruzamento de dados obtidos no Grea, na Associação Brasileira
de Bedidas (Abrabe), na Ambev e no Ministério da Saúde.
De acordo com os pesquisadores, o País gasta 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB) por
ano para tratar de problemas relacionados ao álcool, que variam desde o tratamento de um dependente até a perda da produtividade
por causa da bebida. Já a indústria do álcool no País movimenta 3,5% do PIB. "O País gasta o dobro para tratar problemas provocados
pelo álcool do que usa para produzir a bebida", diz Andrade. "Não há nenhum país onde essa avaliação foi feita que ganhe mais
do que perde com o álcool, mesmo considerando os grandes exportadores mundiais de bebida."
Produção - Segundo Andrade, o País é o quinto maior produtor de cerveja do mundo, com
a terceira maior empresa da área, a Ambev. Da produção da Ambev, que representa 70% do total do Brasil, 90% são destinados
ao mercado nacional. "Do total de cervejas produzidas pela empresa, 35 milhões são engarrafadas por dia", afirma Andrade.
Abaixo, alguns números traumatizantes do alcoolismo.
- 45% dos jovens entre 13 e 19 anos envolvidos em acidentem haviam ingerido bebida alcoólica.
(pesquisa realizada em cinco capitais do país)
- Motoristas alcoolizados são responsáveis por 65% dos acidentes fatais em São Paulo.
- O Alcoolismo é a 3º doença que mais mata no mundo.
- O abuso do álcool causa 350 doenças físicas e psíquicas.
No Brasil, 90% das internações em hospitais psiquiátricos por dependência de drogas acontecem
devido ao álcool.
- Em geral, o figado leva uma hora para processar 30 gramas de álcool. (aproximadamente
uma lata de cerveja)
- Um dez usuários de álcool se torna dependente da droga.
- O uso de álcool aumenta as chances de você ter comportamento de risco para a AIDS.
(transar sem camisinha)
- O álcool é a droga que mais detona o corpo (tanto como cocaína e crack),
é a que mais faz vítimas e é a mais consumida entre os jovens no Brasil.