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Merla

 

A merla é um subproduto da cocaína. É obtida das folhas de coca às quais se adicionam alguns solventes como ácido sulfúrico, querosene, cal virgem, etc, transformando-se num produto de consistência pastosa com uma concentração variável entre 40 a 70% de cocaína. Um quilo de cocaína chega a produzir três quilos de merla. Pode ser fumada pura ou misturada ao tabaco comum, ou à maconha (bazuca). Possui a cor amarelo pálido a mais escuro quando vai envelhecendo.

Sob a forma base, a merla (mela, mel ou melado) preparada de forma diferente do crack, também é fumada. Enquanto o crack ganhou popularidade em São Paulo, Brasília foi a cidade vítima da merla. De fato, pesquisa recente mostra que mais de 50% dos usuários de drogas da nossa Capital Federal fazem uso de merla e apenas 2% de crack.

É uma droga altamente perigosa, que causa dependência física e psíquica, além de provocar danos, às vezes irreversíveis ao organismo.

Assim que a merla é fumada alcança o pulmão, que é um órgão intensivamente vascularizado e com grande superfície, levando a uma absorção instantânea. Através do pulmão, cai quase imediatamente na circulação cerebral chegando rapidamente ao cérebro. Com isto, pela via pulmonar a merla "encurta" o caminho para chegar no cérebro, aparecendo os efeitos da cocaína muito mais rápido do que outras vias. Em 10 a 15 segundos os primeiros efeitos já ocorrem, enquanto que os efeitos após cheirar o "pó" acontecem após 10 a 15 minutos e após a injeção, em 3 a 5 minutos.

Sua absorção normalmente é muito grande através da mucosa pulmonar e seu efeito é excitante do sistema nervoso central. Sua atuação é semelhante a da cocaína, causa euforia, aumento de energia, diminuição da fadiga, do sono, do apetite, ocasionando perda de peso e psicose tóxica (alucinações, delírios, confusão mental). Devido aos resíduos dos ácidos solventes, os usuários poderão apresentar casos de fibrose (endurecimento pulmonar).

Durante o uso podem ocorrer convulsões e perda da consciência. As convulsões podem levar a parada respiratória, coma, ou parada cardíaca e, obviamente, à morte.

O usuário comumente apresenta as extremidades dos dedos amareladas. Pode evidenciar lacrimejamento, olhos avermelhados, irritados, respiração difícil, tremores das mãos, muita inquietação e irritabilidade. A longo prazo, perda dos dentes causado pelo ácido de bateria usado na mistura.

Passado a euforia provocada pelo uso, surgem efeitos como alucinações, depressão, sensação de medo e paranóia de perseguição, por isso a merla é também chamada pelos usuários de "nóia", gíria derivada da palavra paranóia. Essas sensações continuadas podem, em alguns casos, levar ao suicídio.

A "fissura" no caso da merla é avassaladora, já que os efeitos da droga são muito rápidos e intensos. Em menos de um mês ele perde muito peso (8 a 10kg) e num tempo um pouco maior de uso ele perde todas as noções básicas de higiene ficando com um aspecto deplorável.

Somatório dos princípios do crack, dos inalantes e de outros produtos químicos altamente tóxicos e viciantes usados na sua fabricação, a merla aciona o circuito de recompensa, libera neurotransmissores e exaure os neurônios.
Os efeitos duram cerca de quinze minutos. A primeira sensação é de bem-estar.

Seu uso é ainda mais difícil de disfarçar, por ser ela muito mais atuante no organismo do que o crack. Uma de suas características é o cheiro que o corpo exala na eliminação (pela transpiração intensa) dos produtos químicos adicionados durante o preparo da droga. Os usuários cheiram a querosene, gasolina, benzina e éter.

Os usuários de merla rapidamente entram para a delinquência: 68,7% roubavam para sustentar o vício e 17% se envolveram com o tráfico para comprar a droga. Não bastasse tudo isso, o sofrimento é tão grande que 20,5% dos usuários tentaram o suicídio para fugir à síndrome de abstinência ou à depressão causada pelo uso contínuo.

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Nilo Momm