Ecstasy
A perigosa pílula da ilusão
Desde o início da década de oitenta, milhões de pessoas já experimentaram o MDMA (metillenodioxidometanfetamina)
sob a forma de comprimidos de ecstasy. Mas a droga já existia em 1912, quando era usada para fins terapêuticos.
Dois anos mais tarde o laboratório alemão Merck patenteou a fórmula, esperando que ela
servisse como um medicamento para estancar hemorragia, mas nunca chegou a ser comercializada.
A droga ficou esquecida até os anos sessenta, quando foi redescoberta na Califórnia.
O químico Alexander Schulgin sintetizou o MDMA em seu laboratório e testou os efeitos em si mesmo. No final dos anos setenta
publicou um artigo científico sobre o efeito da substância em seres humanos afirmando que a droga produzia "um estado controlável
de alteração da consciência com harmonia sensual e emocional".
Com isso, psicoterapeutas americanos passaram a usar o MDMA como droga auxiliar em seus
tratamentos. Eles acreditavam que se a fórmula fosse administrada em doses controladas, os pacientes falariam sem barreiras
sobre os seus conflitos, ajudando no tratamento.
Os terapeutas que pouco conheciam os efeitos do MDMA sobre o cérebro tentaram manter
seu uso restrito, temendo que a droga se tornasse popular e utilizada para outros objetivos. Foi o que aconteceu, e a partir
dos anos oitenta o MDMA era encontrado em bares norte-americanos com o nome de Adam, Essence and Love, Em 1986, a comissão
de entorpecentes das Nações Unidas solicitou a extinção do MDMA.
Dados recentes da Organização das Nações Unidas (ONU) revelam que o número de usuários
de ecstasy já superou o de cocaína: as estimativas são de 29 milhões de usuários, contra 14 milhões da cocaína.
A diferença é que o comprimido (parecido com uma cápsula de aspirina) é traficado por
pessoas de classe média alta, e não em morros e favelas.
Identificar traficantes e consumidores não é difícil. Basta procurar uma festa eletrônica
e pessoas que dançam freneticamente. Geralmente os usuários bebem muita água e usam chicletes, um recurso para estimular a
salivação e aliviar a tensão no maxilar, enrijecido pela anfetamina incorporada à droga. Os óculos escuros também são acessórios
indispensáveis, porque o ecstasy dilata a pupila e os olhos ficam mais sensíveis.
Cada comprimido custa entre R$ 30,00 e R$ 50,00, em Florianópolis. Na Holanda, Inglaterra
ou Estados Unidos custa entre US$ 3,00 e US$ 5,00.
Ingerido por via oral, o ecstasy chega à circulação sangüínea em vinte a sessenta minutos,
através do aparelho digestivo e se espalha por todo o corpo. Os efeitos começam quando o MDMA chega ao cérebro. O ecstasy
afeta células nervosas que produzem serotonina, um químico cerebral que transmite estímulos para outros nervos. A serotonina
é produzida num local da base do cérebro e transmitida às outras regiões pelos axônios, células longas que transportam esses
estímulos. A serotonina liberada é responsável por sentimentos de contentamento, felicidade, empatia e percepção aumentada.
Os axônios podem medir até trinta centímetros. Normalmente a serotonina é liberada quando
o estímulo viaja pelos axônios. A serotonina é estocada em microcélulas vesiculares no final dos axônios e depositada em pequenas
depressões chamadas sinapses cerebrais.
O estímulo faz a vesícula liberar a serotonina na sinapse. Parte da serotonina é absorvida
pelos receptores do neurônio mais próximo e continua a viajar pelo cérebro. O resto é digerido por enzimas ou reabsorvido
de volta à vesícula de serotonina.
O ecstasy faz as células nervosas liberarem toda a serotonina estocada na vesícula de
uma só vez, sem precisar do estímulo. O químico "inunda" a sinapse, "afogando" os receptores de serotonina. O ecstasy também
evita que a serotonina seja reabsorvida, aumentando a sensação de prazer.
A corrida de serotonina pode provocar sérios danos nas terminações de axônios. A maior
parte dos estudos sugere que as terminações são queimadas e morrem, outros estudos indicam que ela pode ser recuperada, mas
jamais será a mesma.. Ou os axônios ficam mais densos e não transmitem o sinal como antes, ou eles ficam menores e não atingem
as mesmas áreas do cérebro.
Além dos riscos já conhecidos pelo uso do ecstasy (aumento da temperatura, danos cerebrais
e dependência psicológica), outro problema está diretamente ligado ao conteúdo. Em São Paulo a polícia encontrou veneno de
rato em uma das apreensões realizadas em 2001.
Com a dilatação das pupilas as luzes ganham um brilho especial e os olhos ficam mais
sensíveis (por isso muitos usam óculos escuros durante a noite). Além da hipersensibilidade do tato, qualquer toque no corpo,
sob o efeito da droga, promove uma sensação multiplicada. Provoca também a perda de apetite, boca seca, taquicardia, calor
e frio, falta de concentração, insônia, euforia, disposição física, convulsão, insuficiência renal, pânico, depressão, alucinações
e morte súbita.
Mesmo consumida em pequena quantidade, a droga aumenta o número de batimentos cardíacos,
eleva a pressão arterial e produz elevação da temperatura, que pode provocar acessos convulsivos. A febre pode ficar acima
de 41ºC, e o calor provoca a coagulação do sangue, o que pode resultar em parada cardíaca. Pessoas com problemas cardíacos
ou que estão sob efeito de antidepressivos não devem correr o risco de ingerir ecstasy. O consumo de álcool junto com a droga
é potencialmente letal. Dependendo do organismo, a sensação de euforia - que dura até doze horas - pode dar lugar à depressão
e ao cansaço. A droga também pode causar perdas irrecuperáveis no cérebro, o usuário tem maior tendência à epilepsia, paranóia
e transtornos psicóticos.
O ecstasy não é uma droga, mas várias. Apesar de ser derivado da anfetamina, o composto
MDMA tem uma parte de sua molécula semelhante à de um alucinógeno, mas não chega a produzir alucinações como o famoso LSD
(ácido lisérgico), nem a excitação de substâncias estimulantes como a cocaína, porém mistura os efeitos moderados das duas
substâncias, o que origina a chamada "droga social".
Os efeitos são diferentes em cada organismo, mas quem apresenta distúrbios psicóticos
como depressão, pânico ou ansiedade pode ter suas sensações exacerbadas. Da mesma maneira que existem pessoas alérgicas a
determinados químicos, as pessoas têm reações adversas e imprevisíveis ao MDMA.
O ecstasy causa uma hiperestimulação cerebral, ou seja, tudo funciona de forma mais rápida,
o coração acelera e a temperatura do corpo pode ser superior aos 41ºC. As mortes relacionadas ao ecstasy normalmente estão
ligadas à hipertermia.
A febre destrói proteínas do sangue, pode desencadear convulsões ou mesmo paradas cardíacas.
O superaquecimento corporal pode fazer com que o sangue "borbulhe" nas veias e pare de circular.
Estudos mais recentes realizados pela universidade norte-americana John Hopkins trazem
evidências de que o ecstasy ocasiona danos permanentes em determinadas células do cérebro. Segundo a pesquisa, pessoas que
tomam a droga pelos menos cinco vezes sofrem, apatia, insônia e têm menor quantidade de serotonina.
A revista Neurology publicou resultados parciais de uma pesquisa canadense que dissecou
cérebros de cadáveres de usuários de ecstasy para compará-los com cérebros de cadáveres de pessoas que nunca usaram a droga.
Os resultados mostraram que a quantidade de serotonina nos cérebros de usuários era de cinqüenta a oitenta por cento menor
do que em um cérebro normal.
Estudos realizados com macacos mostraram
ainda que os problemas causados pelo MDMA permanecem iguais, mesmo depois de sete anos de abstinência da droga.
Conhecido entre os usuários com vários nomes: bala, Love, star trek (tem uma estrela
desenhada), volkswagen (com a marca da empresa), 8 1/2, mickey mouse, Adam, Essence...
O QUE É Alucinógeno. MDMA (metilenodióxidometanfetamina). Derivado anfetamínico conhecido
por ser a primeira droga de "design", formulada para ser anti-hemorrágico, antigamente usada como antidepressivo. Em forma
de pastilha.
COMO É TOMADO Via oral, com muita água.
COMO É NORMALMENTE ADULTERADO Saem já misturados do laboratório com excipiente. Cafeína
ou anfetaminas.
EFEITOS Alucinações visuais e auditivas. Sensibilidade exacerbada. Promoção de erotismo.
Vontade de dançar, mover e tocar o corpo. Hipercomunicatividade.
DURAÇÃO De 4 a 8 horas.
EFEITOS SECUNDÁRIOS Suores, desidratação, temores, falta de coordenação, insônia, perda
da fome, aceleração cardíaca, desmaios, colapso, prejuízo dos mecanismos dependentes de serotonina, risco de hipertermia.
PARA QUE É USADO Dançar sob luzes coloridas e aproveitar o prolongado fim de semana das
raves. Aumentar a sensibilidade visual e auditiva. Sentir um erotismo epidérmico singular.
NA GÍRIA Pílula, pasti, pastilha, rula, chufla, droga do amor, ram, rom, X, E, lacasitos...
PERFIL DO CONSUMIDOR Clubbers, adolescentes em geral, modernos.
Dosagem: O uso normal, em festas, para diversão, é de 100 a 150 mg, na forma oral. Cerca
de 45 minutos após a ingestão, os efeitos de distorção da realidade começam. Na forma venal, os efeitos começam mais rapidamente.
A duração média é de oito horas de excitação e alegria.
Os efeitos físicos são semelhantes aos da anfetamina: hiperexcitação, sensibilidade extrema
na pele, taquicardia, etc. Contudo, mentalmente, há relaxamento. Em caso de ingestão com álcool, os efeitos são potencializados.
Se a dosagem for duplicada é grande a chance de um ataque cardíaco. A desidratação e a hipotermia costumam matar ravers que
se distraem e dançam suando sem parar. Mas num caso de overdose, é muito mais provável um ataque cardíaco.
O comércio de ecstasy é ilegal em boa parte do planeta. Geralmente, quem vende é também
consumidor.